Como não poderei participar do enlace de uma amiga muito querida em Limeira, interior de São Paulo, no fim de julho, resolvi marcar presença em dois casamentos aqui na Índia: uma cerimônia muçulmana em Bangalore e outra hindu, aqui em Pune, para onde voltei prestes a encerrar a etapa indiana da viagem. Duas experiências inesquecíveis, com direito a tradições bastante interessantes, comemorações madrugada adentro e comidas para lá de saborosas! Em ambos os casos, os festejos duraram três dias – perdi a festa muçulmana e a noite de dança hindu, mas acompanhei o primeiro encontro dos noivos com suas respectivas noivas, seus sorrisos ansiosos e tímidos, a sensação de susto e de alívio. Pois é: aqui na Índia, praticamente todos os casamentos oficiais (religiosos ou não) são arranjados, ou seja, os pais da noiva escolhem o futuro genro. E, em boa parte deles, os jovens só se conhecem de fato no dia da cerimônia.
Pode soar estranho aos corações ocidentais o fato de os indianos não se casarem “por amor”. Meus amigos daqui me dizem: primeiro, vem o compromisso; depois, o afeto. A relação amorosa vai sendo construída pouco a pouco, sem grandes expectativas ou fantasias românticas. Os mais velhos afirmam que esse é o segredo das relações duradouras e do baixo número de divórcios. Os mais novos se dividem: um grupo acredita que os pais saberão escolher bem seu cônjuge enquanto o outro quer ter o direito de encontrar a cara-metade por conta própria.
Em Bangalore, acompanhei a família do noivo e os vários desdobramentos da cerimônia que antecedeu a união religiosa. Os detalhes são inúmeros: como numa peça de teatro ou numa ópera, todos os elementos são narrativos. A pasta de tamarindo que lambuza o rosto do noivo, as moedas envoltas em papel laminado amarelo e que representam fortuna, o perfume, os colares de flores. Depois, a família do noivo – sem ele – leva à casa da noiva os presentes todos: roupas, jóias, sapatos, apetrechos. A noiva troca de sari três vezes e, a cada turno, recebe as bênçãos de suas futuras cunhadas e sogra. Em seguida, os papéis se invertem: são os familiares da noiva – sem ela – que vão à casa do noivo oferecer mimos: comida, perfume e flores. Às 6 horas da manhã, a cerimônia que começou na noite anterior termina. Relação estabelecida, momento de pausa. Às 11h do mesmo dia, a união religiosa, o almoço especial e no fim da tarde a família da noiva entrega-a ao noivo.
Em Pune, o noivo de turbante vermelho chega ao local da cerimônia em seu cavalo branco. Suas tias o recebem com apetrechos distintos para as bênçãos e a despedida. Em seguida, ele segue ao altar, onde a noiva de sari e tatuagens de henna nas mãos o espera. Diante deles, uma toalha repleta de frutas, incensos, pétalas de rosa, açúcar, elementos usados em eventos religiosos hindus, entre outras coisas. Também aqui cada detalhe é fundamental. Os tios do noivo comprometem-se, em nome da família, a receber a noiva como se fosse sua filha. O fogo é aceso e, diante dele, noivo e noiva são literalmente unidos com fitas amarelas e vermelhas. A mãe da noiva também os abençoa.
Não houve buquê em nenhum dos dois casamentos. Mas não faz mal. A viagem só termina daqui a cinco meses; até lá quem sabe minha mãe já tenha conseguido encontrar um bom marido para mim...
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