terça-feira, 15 de setembro de 2009

Danças Indianas
























Indianas

Como não poderei participar do enlace de uma amiga muito querida em Limeira, interior de São Paulo, no fim de julho, resolvi marcar presença em dois casamentos aqui na Índia: uma cerimônia muçulmana em Bangalore e outra hindu, aqui em Pune, para onde voltei prestes a encerrar a etapa indiana da viagem. Duas experiências inesquecíveis, com direito a tradições bastante interessantes, comemorações madrugada adentro e comidas para lá de saborosas! Em ambos os casos, os festejos duraram três dias – perdi a festa muçulmana e a noite de dança hindu, mas acompanhei o primeiro encontro dos noivos com suas respectivas noivas, seus sorrisos ansiosos e tímidos, a sensação de susto e de alívio. Pois é: aqui na Índia, praticamente todos os casamentos oficiais (religiosos ou não) são arranjados, ou seja, os pais da noiva escolhem o futuro genro. E, em boa parte deles, os jovens só se conhecem de fato no dia da cerimônia.

Pode soar estranho aos corações ocidentais o fato de os indianos não se casarem “por amor”. Meus amigos daqui me dizem: primeiro, vem o compromisso; depois, o afeto. A relação amorosa vai sendo construída pouco a pouco, sem grandes expectativas ou fantasias românticas. Os mais velhos afirmam que esse é o segredo das relações duradouras e do baixo número de divórcios. Os mais novos se dividem: um grupo acredita que os pais saberão escolher bem seu cônjuge enquanto o outro quer ter o direito de encontrar a cara-metade por conta própria.

Em Bangalore, acompanhei a família do noivo e os vários desdobramentos da cerimônia que antecedeu a união religiosa. Os detalhes são inúmeros: como numa peça de teatro ou numa ópera, todos os elementos são narrativos. A pasta de tamarindo que lambuza o rosto do noivo, as moedas envoltas em papel laminado amarelo e que representam fortuna, o perfume, os colares de flores. Depois, a família do noivo – sem ele – leva à casa da noiva os presentes todos: roupas, jóias, sapatos, apetrechos. A noiva troca de sari três vezes e, a cada turno, recebe as bênçãos de suas futuras cunhadas e sogra. Em seguida, os papéis se invertem: são os familiares da noiva – sem ela – que vão à casa do noivo oferecer mimos: comida, perfume e flores. Às 6 horas da manhã, a cerimônia que começou na noite anterior termina. Relação estabelecida, momento de pausa. Às 11h do mesmo dia, a união religiosa, o almoço especial e no fim da tarde a família da noiva entrega-a ao noivo.

Em Pune, o noivo de turbante vermelho chega ao local da cerimônia em seu cavalo branco. Suas tias o recebem com apetrechos distintos para as bênçãos e a despedida. Em seguida, ele segue ao altar, onde a noiva de sari e tatuagens de henna nas mãos o espera. Diante deles, uma toalha repleta de frutas, incensos, pétalas de rosa, açúcar, elementos usados em eventos religiosos hindus, entre outras coisas. Também aqui cada detalhe é fundamental. Os tios do noivo comprometem-se, em nome da família, a receber a noiva como se fosse sua filha. O fogo é aceso e, diante dele, noivo e noiva são literalmente unidos com fitas amarelas e vermelhas. A mãe da noiva também os abençoa.

Não houve buquê em nenhum dos dois casamentos. Mas não faz mal. A viagem só termina daqui a cinco meses; até lá quem sabe minha mãe já tenha conseguido encontrar um bom marido para mim...